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A trajetória da duplodeck contraria a teoria simplista de que tendências retornam a cada 20 anos. Inspirados por Teenage Fanclub e Yo La Tengo, os juizforanos fizeram o primeiro ensaio em 2001, quando compuseram I’m Sure, cujos riffs remetem a um embate entre Pavement e New Order. Confusa e cativante, a faixa demonstrava o quanto as distintas influências dos integrantes impossibilitariam que as músicas saíssem como o planejado, mas, por outro lado, sugeria que a sintonia entre os músicos permitiria um acerto, mesmo que acidental.
Em pleno início dos anos 00′s, a duplodeck dava seus primeiros passos revivendo as guitar bands da década de 90, tendo os Pixies como uma de suas principais referências. Inspirados por girl groups sessentistas, foram adicionados vocais femininos e teclados lounge, resultando em uma sonoridade mais pop que permitiu flertes com a bossa nova e comparações com Stereolab. Essa primeira fase está representada em seu primeiro EP, que foi gravado em 2003, mas acabou sendo engavetado à medida em que banda experimentava em novas composições.
Em 2004, iniciou-se uma nova fase em que o passado noise fazia concessões à simplicidade proposta pelos Strokes, ao passo em que a influência brasileira era diluída, porém, mantinha-se quase sempre presente. Distante da crítica e do público, assistiu à ascensão e à queda de dúzias de bandas que tinham estética semelhante, quando uma safra tão sintonizada quanto descartável assolou o rock alternativo brasileiro da época. Sem querer se afastar ou muito menos disposta a tirar proveito daquela situação, a banda planejava um disco para 2005, mas acabou encerrando as atividades naquele mesmo ano.
Em 2011, a gravadora mineira Pug Records ressuscitou o EP de estreia. Sintonizadas com o cast do selo e com outras guitar bands contemporâneas, as faixas pareciam soar mais atuais do que quando foram criadas dez anos antes. Apesar de os integrantes estarem espalhados por diferentes cidades, a duplodeck decidiu retomar o projeto do disco cheio, chamando para a produção o amigo Ciro Madd. Por questões logísticas, as gravações aconteceram nos verões de 2010, 2011 e 2012. Somado à temática e à estética que por vezes ilustra o nascer e pôr-do-sol, esse é um dos motivos para que o disco fosse batizado de Verões.
O álbum começa à beira-mar com Saint-Tropez, uma balada litorânea que não tem medo de soar como samba para gringo. Misturando elementos de jazz e efeitos espaciais, Uns Braços é outro momento para fãs de música brasileira. Bom Dia, Amor vai crescendo à medida em que Clap Your Hands Say Yeah e Mutantes parecem encontrar um meio termo. Mais diretas, Boemia e Hi-Fi animariam qualquer pista durante os anos 00′s. Strange Girl e Verões trazem resquícios de MPB quase soterrados por guitarras que evocam Wedding Present e Radiohead. Único momento que corresponde a ideia inicial da banda, Brisa fecha o disco com camadas de guitarras tão contemplativas quanto as de Everything Flowse I Heard You Looking Me.
Novamente com um delay de 10 anos, a duplodeck apresenta suas músicas, sem se preocupar se tudo teria feito mais sentido em 2004. Lançado pela Pug Records, Verões é um recorte peculiar e representativo das idas e vindas do rock alternativo durante esse período. Ainda que agreguem influências diversas, suas oito faixas vão soar familiar para a maioria dos ouvintes, o que permite opiniões extremas em relação ao disco . Enquanto isso, os duplodeckers continuam ensaiando para lançar em breve músicas que sejam realmente novas.
O disco terá versão física em CD-R e cassete, distribuído nos Estados Unidos pela Bleeding Gold Records.